quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Aos 13

E, quando dei por mim, éramos só nós duas: eu e a vida.
Sentei-me de frente a ela com as pernas em forma de V ao longo das coxas, por fora, e ela me avisou que não fizesse isso, porque as deformaria. Respondi que ela não devia estar fumando.
Sorriu-me com dentes amarelados e me ofereceu uma troca: eu não mais me sentaria daquele jeito, e ela deformaria a minha visão.
Eu não veria perigo em estar sozinha numa rodoviária na madrugada. Nem em assumir dívida que não saberia se podia pagar. Não reconheceria olhos maliciosos e nem armadilhas de inveja. Receberia convites escusos e diria "não" como quem se recusa a aceitar uma bala. Assumiria responsabilidades dos outros, e malemá daria pouco a quem nada tinha. Almoçaria sem saber se teria janta. Seria surda a ofensas menos que óbvias.
Não achei vantagem, mas ela prometeu: "eu te mandarei anjos, e você será uma das pessoas mais felizes que conhece".
Tenho belas pernas até hoje.

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