terça-feira, 28 de setembro de 2021
Arlete
Dá um desconto aí
Desconta a solidão
O abandono
E as portas fechadas na cara
O não cabimento
O não pertencimento
O não ser de ninguém
Quando ninguém fotografava
Dá um desconto aí
Do sobrenome que todo mundo tem
Do "essa aí vai dar em nada
Ou vai dar pra todo mundo"
Da promissória que ninguém quer assinar
Da esperança num futuro que nunca foi garantido
Ou melhor: dá desconto não
Cobra tudo!
Houve anjos nas rodoviárias vazias na madrugada
Houve mães nas mães das crianças bem nascidas
Houve madrinhas e apostas de desconhecidos
E o que eu não tive, aparentemente
E graças a Deus
Foi o que eu não precisava
Pra chegar onde cheguei
Chegar em mim
Arlete Franco
Setembro/2021
Foto: Pinterest
sexta-feira, 17 de setembro de 2021
Avisa lá
Mãe, tem um cara aqui que me dá bom dia, todo dia
Me abraça, me beija e faz o meu prato
E diz que me ama
Me leva pra lá e pra cá, me apresentou pra família
Ri comigo, já chorou, já se reformulou
E diz que me ama
Ele quer passar o resto da vida juntinho e todas mais, se existirem
Faça chuva ou sol, ou nevasca, ainda que improvável
E diz que me ama
Esteve comigo por semanas quando eu quase fiquei cega
Se dá bem com as crianças e as respeita
Mãe, tem um homem ao meu lado, agora
E eu sei que ele me ama
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