sexta-feira, 3 de junho de 2016

Charme

Numa das muitas vezes em que estávamos estremecidos, fui a um barzinho, sabendo que ele estaria lá com os amigos. sabendo que ele sabia que eu sabia que ele estaria.
Cheguei com a minha turma, todas a par da situação, e sentei a algumas mesas de distância. Conversava, ria, cantava, e olhava discretamente para o lado dele, que não olhava para mim. Fui me aborrecendo aos poucos.
Ele vestia uma roupa que eu tinha dado de presente, e umas menininhas na mesa ao lado claramente o paqueravam. Mas ele só interagia com os amigos. Fui murchando.
Num dado momento, ele ficou sozinho na mesa. Pegou o guardanapo, abriu, e com os cotovelos fincados na mesa, o estendeu na frente do rosto. Fiquei olhando, sem entender o gesto, e já que ele não me via, não precisei disfarçar, fiquei meio hipnotizada. Mantendo o guardanapo parado, ele foi baixando o rosto devagarzinho, igual gato no meio da folhagem, e na hora que os olhos apareceram, ele estava sorrindo para mim, e me deu uma piscadinha.
Caí na gargalhada. Que convencido! Que tratante! Que provocativo! Alguém tem que ser muito seguro de si para brincar assim.
Ele veio para a nossa mesa, e fizemos as pazes. Pela centésima vez.

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