terça-feira, 13 de junho de 2017

Prece à Morte

Deixa-me viver
Deixa-me ser cuidada e abandonada
Deixa-me ver a transformação do meu corpo
E das lentes com que os meus olhos enxergam o mundo

Deixa-me viver
Deixa-me escolher como gastarei meu tempo
Suarei a minha testa, ganharei meu pão
Deixa-me ver a cura e a sua vitória
Restaurar fôlegos, dar más notícias
Deixa-me lutar em vão

Deixa-me viver
Amar e ver o amor entre os dedos escorrer
Ver filho crescendo
Perder pais, ver perder o juízo
Pisar em outro chão

Deixa-me viver
Até não mais me reconhecer
Se eu clamar por você, não venha
Em cinco minutos, vou me arrepender
Deixa-me durar

E, quando vier
Venha num susto
Num golpe bem brusco
Porque o viver tem a sua dor
Mas infinitamente pior é vislumbrar a sua chegada

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