sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Trajeto

Ele fala aos borbotões e não se interessa se eu gosto do assunto ou não. Ou melhor, dos assuntos. Pula de um para o outro da mesma maneira que o demônio da tasmânia deve devorar um quitute após o outro. Igual criança: caramujo, borboleta, mar, lua e estrelas"...
E eu o ouço, enquanto dirijo "o carrão", que já determinou-se que só serve para podermos ficar juntos.
Vez por outra, quando ele está recuperando o fôlego, tenho a chance de dizer a minha opinião. Ou contar uma história. E ele me ouve. Não sei disso por ele falar muito a respeito, na hora. Mas pela maneira com que toca no assunto semanas, às vezes meses depois, mostrando que ficou digerindo a informação igual a uma piton apaixonada. Suponho eu.
Já cheguei a estar com a bexiga estourando, e tive que interrompê-lo para ir ao banheiro, pedindo que ele segurasse o ponto em que parou, e ele continua com a mesma eloquência de antes.
Talvez por isso o silêncio soe estranho.
Espero que por isso.
Tem que ser isso.

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