quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Luis

Eu gosto é da história.
O meu filho Luis teve que tirar o rim direito, devido a um defeito de nascença que não se manifestou até os cinco anos de idade. Durante esse tempo, eu não trabalhei, ou foi só meio período, então fui poupada de me sentir culpada por não diagnosticar antes.
Assim que eu soube, chorei muito, o medo comum da anestesia. Só mudei de atitude quando o pai dele falou "você está me assustando!".
Eu me lembro dele entrando no centro cirúrgico. Eu na sala de espera, bordando em ponto-cruz. No pós-operatório, eu colocava os pés dele em cima dos meus, e a gente ria dizendo que éramos "Marcha dos Pinguins". Nos entupimos de pudim de baunilha, e ele descobriu que adora ficar sozinho comigo. Tenho foto dele assistindo TV em casa, de ponta cabeça, com o curativo cirúrgico ainda lá. Foi mais tranquilo do que esperávamos.
Hoje, ele brinca com os amigos sobre o assunto. Os meninos perguntam se eu posso adotá-los, eu digo que ficar disponível pra doar rim é pré-requisito pra entrar pra família.
E essa é uma das minhas histórias preferidas. O vínculo amoroso que se fortalece em momentos difíceis. O meu maior medo, desde criancinha, sempre foi chorar a morte de um filho (vai entender). Mas tudo correu muito bem. E eu posso empatizar melhor com os familiares dos meus pacientes. E o moleque segue firme e forte, tomando refrigerante com açúcar. Mas só de fim-de-semana, que a mãe não é tão permissiva assim...

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