terça-feira, 9 de junho de 2015

Doutores

Ele me encontrava no meio do hospital, e na frente de todo mundo me chamava de "doutora".
As pessoas se entreolhavam, meio sem entender, meio pressentindo a nuvem cinza sobre nossas cabeças.
No começo, eu o puxava de lado e murmurava entre os dentes: "deixa disso, somos colegas".
Dali a cinco minutos ele estaria falando em sílabas: "dou-to-ra!"
Até que eu desisti de reclamar e o tal "ser chamada de doutora" virou termômetro do humor dele comigo.
Nos momentos em que eu estava muito brava, devolvia um "doutor cirurgião", e ele me fuzilava com os olhos.
Mas quando estava tudo bem, quando estávamos sozinhos e ele baixava a guarda, os meus títulos eram bem diferentes.
E ambos ficávamos felizes de termos muita saúde, naquela hora.
Porque se um dos dois precisasse de assistência médica, com certeza, o outro não conseguiria dar...

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