domingo, 8 de março de 2015

Experimento

O mais libertador de não haver perspectivas de futuro era não haver necessidade dos clichês.
Seria ascensão, domínio e queda em seis horas, ao invés de seis meses.
Não mentiram para impressionar um ao outro, não fizeram promessas que não pretendiam cumprir, contaram histórias sem medo de julgamento, e tiraram a roupa porque era isso mesmo que quiseram, assim que se viram.
Ela achou ótimo não ter tentado parecer uma femme fatale. Uma máscara daquela não teria durado muito tempo. Estava experimentando o tal sexo casual pela primeira vez, prá ver se conseguia, se era gostoso, se lidaria bem com não receber o telefonema no dia seguinte. Ele cairia como uma luva.
Pararam num posto de gasolina, e ela desceu.
- Espera um pouco que eu compro.
Chegou perto da porta de vidro, e voltou, sem graça. Ele abaixou a janela.
- Tamanho P, M ou G? - perguntou, morrendo de vergonha.
Ele explodiu numa gargalhada meio bêbada.
- Não é assim que se vende!
Falou um número lá, e ela nem soube se a noite prometia, porque não entendia de tamanho em números.
Voltou na direção da loja, e pro carro de novo.
- Compro uma ou duas?
Nova gargalhada, e agora ele quase chorou de rir.
- Só se vende de três! - respondeu, enxugando os olhos.
Ela começou a ficar vermelha e riu também.
- Quanto tempo faz que você não faz sexo, mulher?
- Onze meses. E eu não precisava usar camisinha, já te falei.
- Então não usa comigo, pô!
- Você tá louco?!
Entrou na loja e comprou, tentando fazer cara de adulta. Mas estava muito sem graça, e o balconista dando um sorrisinho de lado não a ajudou.
Prá resumir: o cara, acostumado a mandar, mandou bem. O corpo dela agradeceu muito. Ele, porém, não a ajudou a definir o que queria dos homens. Mas a ensinou que aquele tipo de encontro, definitivamente, não era para ela. Ela preferia que ele tivesse ligado. Nem que fosse para dar tchau antes de embarcar no avião.

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