sábado, 7 de março de 2015

Tornado

A sirene tocou ali pelas duas horas da manhã. Eu estava sozinha, numa fazenda imensa, no meio do interior de Illinois. Difícil acesso até para quem queria muito chegar. Escutei o vento, percebi uma cor amarelada estranha no céu, mas já estava acostumada aos alarmes falsos.
Peguei o rádio de pilha, uma garrafinha de água, e desci para o porão. Queria que o meu marido estivesse comigo. Fiquei feliz pelo fato da minha filha já ter ido embora, com as crianças.
Sentei no sofá, liguei a TV, que estava dando os avisos sonoros, mostrando o mapinha do meu condado em vermelho, e anunciando "um tornado foi visto tocando o chão em tal ponto, procure abrigo..."
De repente, o barulho de um trem, altíssimo, ensurdecedor. A casa acima de mim tremeu e tudo foi pelos ares. Num pulo, me vi embaixo da mesa de ping-pong, de olhos fechados e cobrindo os ouvidos. Lembro de ter me perguntado se, como no filme, estariam voando vacas, jamantas e sabe-se mais o quê. Sempre tenho pensamentos fora de contexto, que me dão vomtade de rir, na hora do nervosismo. Mas o medo maior, definitivamente, era de nunca mais vê-lo. Meu amor. Nunca mais ouvir sua voz. Me misturar a uma pilha de entulho e tudo deixar de existir. Não podia terminar assim.
Eu estava no meio do nada, sozinha, tornado acima de mim, e ele parecia durar uma eternidade. Quando lembrariam de me procurar? Se é que eu sobrevivesse... Desmaiei.
Acordei no Hospital Regional. O corpo latejava em dor muscular, a cabeça doía... O bombeiro, rosto branquinho, jeito de boa gente, falou as três melhores palavras que eu podia escutar, como um sopro em ferida de carne viva: "Como você está?" Olhei prá ele meio sem forças e quis perguntar "como você soube?", mas não consegui. Comecei a chorar de alívio. Estava viva. Fui encontrada. Ele já estaria a caminho, correndo de volta prá mim. Certeza.

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