sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Cardio versus G.O.

Eu tive dúvida entre me especializar em ginecologia/obstetrícia ou cardiologia, até o final da faculdade.
Tive um tio que morreu de endocardite (infecção dentro do coração), e morei ao lado de uma clínica de cardiologia, me embrenhei nela no sexto ano, e então acabei decidindo por isso. Também não gosto de operar: o corte-costura, cheiro de sangue, passar calor debaixo de holofotes imensos, com um peso enorme de roupa, horas e horas em pé, sem saber se está chovendo ou sol lá fora. Não é pra mim.
Mas eu olho uma foto do meu amigo, Dr. Marcelo Lopes, uma coisa miudinha nas mãos dele, e me lembro do encanto que foi ser treinada nessa área... Testemunhar o nascimento de um bebê, cirúrgico ou normal, com tanta possibilidade de vida pela frente, e a (re)criação de uma mãezinha é um privilégio. Consigo lembrar da sensação tátil do corpinho, os movimentos e manobras, quando tudo evolui normalmente, a intensidade do evento. E um ou outro caso mais complicado, que marcou.
Lembro da maioria das altas que damos no setor da Obstetrícia: uma família feliz, iniciando um novo capítulo da vida. É raro o óbito, um desfecho infeliz.
Bons obstetras são agressivos o suficiente para tomar decisões sérias em tempo hábil para salvar vidas (têm temperamento de cirurgiões), mas lidam com mulheres, numa época única da vida, então são também sensíveis e amorosos.
Não deve ser fácil lidar com o descaso com a saúde pública, numa situação dessas. Brigar por vaga de UTI para bebê de alto risco, antes mesmo que o parto aconteça, não ter luva no tamanho adequado e outros materiais necessários, enfrentar modismos inconsequentes, a mídia, e por aí vai... Se ser médico fosse apenas a parte científica da profissão, seria um paraíso!
Essa foto me trouxe de volta aquela ternura no coração. Obrigada, Lo Lopes.

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