quarta-feira, 6 de julho de 2016

Genética

A minha memória celular tem mar
Canoa, rede, peixe, facão
Um avô que falava tupi-guarani
Uma mãe que come até o olho do peixe
Tios Yara, Ubirajara, Potiguara
Primos Humaitá, Arari, Aracanã

E eu não como peixe com espinha
E não entro em mar acima do umbigo
Morro de afliçao se alga encosta
Não quero encher o carro de areia

A minha memória celular tem roça
Gente que sabe a diferença entre rúcula e agrião
Planta, torra, mói, coa café
Cria galinha, nomeia, mata pra canja
Planta cana, espreme garapa
Monta o cavalo no pêlo

E eu gosto de farmácia perto
Supermercado, quitanda
Frango congelado na bandeijinha
Cavalo solto, só pra olhar

E de onde foi que me veio
Que meu habitat tem tetos altos
Mil bactérias e cheiro de álcool
Sofrimento e alívio
Nascimento e morte
Primeiro grito e último choro

Seria da tataravó parteira?
Algum pajé caiçara desconhecido?
Não sei, me basta ter encontrado
Meu próprio caminho feliz

Nenhum comentário:

Postar um comentário