segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Diner

O que ela não contava nem para a própria sombra era que todas as manhãs, às 7:15 h, seu coração disparava ao ouvir o sininho da porta tocar, e, mesmo que estivesse de costas, sentia que era ele.
Que esperava com anseio ouvir sua voz, mas que, se estava com outro cliente, ignorava-o com um ar blasé, e deixava outra garçonete servi-lo. Não queria que ele a achasse uma mulher oferecida, ou pensasse que seu marido era corno. (O amor tinha acabado, mas ele era um homem bom, não mereceria isso).
Que adorava vê-lo nas fotos do jornal, e sempre se escondia no banheiro para gravá-las na memória. Gostaria de poder fazer um álbum delas.
Mas contava pra ele das crianças, da dureza da vida, dos planos para o futuro. Até a hora que chegavam mais clientes, e tinha que interromper a sessão de hipnose.
Às vezes, achava que era correspondida. Às vezes, que era tudo imaginado, por querer demais.
Também não contava a fantasia maluca que tinha com ele, um estranho: de que ele deixaria a esposa e ela o marido, e criariam juntos os cinco filhos que tinham, ao todo. E que ela seria uma boa mãe para os dele.
Ela se divorciou, porque achou que não havia sentido continuar aquela farsa. Duas semanas depois, ele foi assassinado numa briga de bar.

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