sábado, 26 de dezembro de 2015

Sobre amores que ficam no caminho

Ela tinha uma vaga ideia de quem queria ser quando crescesse, e nenhuma dúvida do homem que ele se tornaria - ele não a decepcionou.
Queria amar a si mesma do jeito que ele fazia, enxergar-se através dos olhos dele, descobrir de onde vinha aquela ideia tão certa de merecimento. Aquele encanto de quem vê um arco-íris saindo de um prisma pela primeira vez. Toda vez. No primeiro beijo, no pedido de namoro, quando ela desmanchou, quando ela pedia a bicicleta emprestada para se encontrar com outro, e ele fingia que não sabia.
As décadas fluíram, os caminhos se divergiram. Ela seguiu o seu, cidadã do mundo, ele o dele, senhor da retidão. Na convergência, reconhecem-se como almas oriundas da mesma centelha, e os olhos dele ficam vidrados como sempre, e ela com a mesma curiosidade - de onde tamanha capacidade?
Ela o beijaria na boca, hoje em dia. Não fosse a existência da outra.

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