quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Chandelier

Paro no sinaleiro e canto a todos os pulmões, junto com a doida, a promessa que nunca vou cumprir: "I'm gonna swing from the chandelier, from the chandelieeeeeeer..." Eu não vou balançar em candelabro nenhum. Nem tenho vontade. Estou saindo de um emprego para outro. Entre eles, vou à manicure, almoçar, pagar o INSS da empregada e levar a filha à escola. Nada mais diferente do que os planos da moça.
Mas eu gosto da música, e de sua intensidade. E aí, fico pensando na intensidade da letra, no momento que foi escrita, se é que reflete a realidade do(a) autor(a). Quanto desajuste... E em muitas mais: "tentaram me levar para a reabilitação", "tenho que me manter drogada para manter você fora da minha mente", e por aí vai...
Uma vez, Djavan disse que para se criar algo, ou se está muito contente, ou muito triste (ou algo nesses termos). Será que é isso mesmo? Será mesmo necessário um desajuste nesses nossos artistas maravilhosos? Uma mente caleidoscópica é essencial para que algo belo (ou nem belo, mas impactante) surja, para entretenimento de quem acorda cedo e paga as contas em dia? A que custo para a vida pessoal do artista? Será que se mais diagnósticos e tratamentos psiquiátricos fossem feitos, menos beleza existiria no mundo? Se examinarmos de perto a vida de vários atores, pintores, compositores, escritores, veremos sintomas claros de várias doenças, mas o legado que deixaram é indiscutível, belíssimo! Por outro lado... Muito bom que eu não fui parente deles...
Será que o jardineiro consegue fazer poesia a respeito da beleza da flor, depois de ter que regar, adubar, combater as pragas, cortar as folhagens, etc? Ou, no final do dia, está tão cansado, que a última coisa da qual quer ouvir falar é plantas, e quem curte mesmo é a madame, que exibe o jardim para as amigas, orgulhosa, como se fosse obra sua?
Há que se achar um caminho do meio. Ter um jardim não tão grande, que se passe o dia inteiro só cuidando, e não se tenha forças de apreciar o resultado final. Usar a loucura para criar coisas belas, mas não se tornar refém dela. Saber procurar ajuda na hora certa. Um equilíbrio. Tem gente que passa a vida inteira procurando e não acha. Espero que a moça da música ache, antes que o candelabro quebre.

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