Sofro da maldição
Do excesso de juízo
Daqueles pobres seres
Que não se dão ao luxo
De enlouquecer
Que não jogam copos
Contra a parede
Não gritam
A todos pulmões
Nem arranham a cara
De quem merece
Não transam
Com o marido das outras
(Nem quando elas pedem)
Com pena dos filhinhos
Menores de idade
Não engravidaram
Na adolescência
Nem ao menos
Uma doença venérea
Que pensam demais
Em consequências
Em dores imaginárias
Em ressacas
E perigos de vícios
Trocam o rolo
Do papel higiênico
Carregam o guarda-chuva
Dirigem quando
Está todo mundo bêbado
Calculam doses
Calculam riscos
Decidem sabiamente
E têm paciência
Investem a longo prazo
Com a cabeça fria
Dos que não tomam
Remédio prá dormir
Com medo de ter que
Acudir alguém
Na calada da madrugada
Dos que não jogam
Por dinheiro
Daqueles com quem
Se pode contar
Na hora do desespero
Escrevo para manter
Esse equilíbrio
Funcionando
Porque sofro
Da maldição
De ter sido a mãe
Da minha própria mãe
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