Nem preciso dizer que vou falar dos filhos, né?
Nunca esperei gostar tanto de ser mãe. Eu quis muito ter uma família, depois que me formei, e me empenhei em achar alguém legal que também quisesse. Que tivesse mais ou menos os mesmos valores que eu, que pudesse, enfim, formar um time comigo e colocar umas pessoinhas no mundo, prá gente cuidar. A cena do comercial de margarina. Achado o cara, fizemos dois de propósito e... opa! Mais uma! Felicidade geral!
Obviamente, durante a gravidez do primeiro, enquanto eu ainda tinha tempo em abundância para isso, li tudo o que pude a respeito do assunto - o que não corresponde a um milésimo do que se pode e precisa saber. A definição mais divertida e verdadeira que eu encontrei foi mais ou menos assim: "criar um filho é colocar na terra sementes de um saquinho sem a fotografia do que vai nascer". Muito certo, isso!
Há alguns clichês que não funcionam, porém. Sempre ouvi dizer que o filho do meio é o mais negligenciado. Não na minha família. O primeiro, um menino, é três anos e meio mais velho que o segundo, que é um ano e meio mais velho que a caçula. Esse "loiriquinho" se deu foi bem: toda vez que eu abraçava o mais velho, ele também pedia abraço. Toda vez que eu abraçava a mais nova, lá vinha ele pro abraço! Já o mais velho e a caçula não prestam muita atenção um no outro, inclusive hoje em dia. O do meio brinca com o mais velho quando é "jogo de homem", como bola e videogame, e brinca com a mais nova, quando são jogos para os quais o outro já é muito maduro. A cumplicidade dele com os outros dois é impressionante. Um tipo de amizade diferente com cada um.
O amor da gente, como mãe, acomoda qualquer tipo e (acredito) número de filhos. Como tenho três, acho família de dois filhos minúscula. Se tivesse quatro, provavelmente acharia três uma mixaria, e assim por diante.
Cada fase é um prazer e uma preocupação. Quando são bebês, o trabalho braçal é árduo, e ficar sem dormir direito pode ser excruciante, conforme a mulher. Eles também pegam bastante doencinha, e a gente é muito insegura. Esquece ser médica nessa hora. Se bobear é até pior, por excesso de conhecimento, do que pode complicar o quadro, por exemplo. No primeiro, a gente se pergunta se não precisaria esterilizar a água do banho. No segundo, já é bem mais tranquilo. A gente não põe no peito assim que chora. Ele que espere dar duas horas de intervalo! O terceiro é um passeio pelo parque! Ou pelo menos a minha foi, porque era muito tranquila. Às vezes, eu olhava assustada para trás, procurando-a na cadeirinha do carro, porque ela era tão quietinha, que eu achava que a tinha esquecido em algum lugar. Ela só me olhava e sorria atrás da chupeta.
Nunca esqueci filho em lugar nenhum. Mas levei o segundo para a escolinha sem sapato (ele entrou sozinho no carro eu não percebi). Uma vez o mais velho virou o carrinho do supermercado com o segundo no lugar de criança (sorte que o cinto estava bem preso). E uma vez, aos sete meses, a nenê rolou da cama e bateu o nariz, o que me causou o pior sentimento de culpa da minha vida.
Agora, na pré-adolescência e adolescência, a preocupação é outra. Orientar, vigiar, participar, ser motorista, impor limites e ver, afinal de contas, que tipo de plantinhas eles são. Procurar ajuda profissional, quando necessário. Médicos, psicólogos, orientadores educacionais, professores e até a motorista da van dão uma mão. Sem falar nos amadores experts, como avós, tios e amigos que se interessam pelos filhos da gente.
Nos Estados Unidos, eles dizem que é necessário um vilarejo para criar uma criança, e também acho essa uma grande verdade. Quando a gente gosta de alguém que também é mãe, esse amor, via de regra, se estende para os filhos dela, e a gente torce para que se tornem pessoas legais, da mesma forma que deseja para os nossos. Então, se for pedida uma opinião a respeito, darei com a melhor das intenções, e, não estando os pais por perto, o instinto acaba mandando vigiar e não deixar que nada ruim aconteça, até os pais chegarem.
Não vou começar a escrever aqui o porquê de gostar tanto de ser mãe, porque não vai caber, e provavelmente será um clichê atrás do outro. Mas, só prá resumir: o crescimento esiritual, a multiplicação da capacidade de amar que ocorre a uma pessoa quando ela dá a luz é algo que só vivendo para sentir. A sua vida não gira mais em torno de si mesmo. Suas prioridades todas mudam. Sua tolerância, seus medos, como você administra o seu tempo, suas finanças, tudo é alterado por aquele serzinho. Pelo menos no início da vida deles, o seu poder de fazê-los felizes é muito grande. Sentar no chão prá brincar com eles é celebrado como se você fosse uma rainha visitando os súditos! Além das gracinhas fora de hora, declarações de amor, piadas...
Existe o outro lado: aborrecimentos, confrontos, preocupações, doenças, etc, que não chegam a ofuscar o lado bom. Afinal de contas, são pessoas, que vieram de pessoas, não existe nem de perto qualquer expectativa de perfeição. Têm limites e defeitos, que a gente tolera e tenta ensinar como minimizar, e um a tolerar o outro, lidar com aquela característica indesejável.
Meus meninos me encantam todos os dias. São plantinhas lindas, flores e folhas desabrochando, que me dão muita alegria e orgulho. Expressam opiniões próprias, reagem de maneiras inesperadas, sentem e encaram algumas situações de formas que me deixam aliviada e surpresa. Uma aparadinha aqui, outra ali... E eu não posso fazer nada a não ser agradecer a Deus por esses três: inigualáveis, inconfundíveis, incomparáveis filhos maravilhosos!
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