segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Diferenças

Em uma aula de Psicologia Médica, o professor fez um exercício conosco que achei bastante interessante. Nos contou uma estória na seguinte linha: "uma mulher estava extremamente infeliz no casamento, e então começou a atravessar o rio, para visitar a mãe do outro lado, todos os dias. Apaixonou-se e tornou-se amante de um homem que morava lá. Mentia, então, para o marido, dizendo que visitaria a mãe, mas ficava com o homem, até o horário da última catraca voltar. Certa noite, perdeu a hora. Voltou para a casa dele, e pediu que a levasse de carro através da ponte, pois era muito perigosa, um lugar no qual havia muitas ocorrências de estupro. O homem, por medo de ser desmascarado pelo marido, se negou a ir. Disse que ela se arriscava a isso acontecer, que arcasse com as consequências. A mulher decidiu ir, mesmo assim, e foi estuprada e assassinada." De quem foi a culpa deste crime? Por quê? - eram as perguntas.
Não havia resposta certa, e a intenção era gerar debate e aprimorar a argumentação entre nós. E eu gosto pouco de uma polêmica...
Houve, então, quem colocasse a culpa na mulher. Era uma mulher casada, traindo o marido, se arriscou, perdendo a hora, indo sozinha pela ponte, deveria ter dormido na casa da mãe. Houve quem julgou o amante, porque foi um covarde, não a acompanhou para sua segurança, não demonstrou a menor consideração. Também houve quem responsabilizou o marido, porque se ele a estivesse fazendo feliz, ela não estaria indo buscar amor do outro lado do rio e se expondo ao perigo desse jeito. E houve gente que, taxativamente, falou que a culpa do crime era do criminoso, oras! Só não teve um "a culpa é do governo", mas chegamos perto, porque, afinal, ele não combate a criminalidade (alguém poderia argumentar). Percebi que o professor nos escutava e já ía chegando a uma opinião sobre nós, durante a aula. Um era mais expansivo, o outro mais tímido, um prático e direto ao ponto, o outro ponderado e detalhista, e assim por diante.
Não me canso de observar essas diferenças entre as pessoas. Em cada mínimo aspecto do comportamento. As escolhas, o que dá prazer, o que se evita, as proridades, o jeito de se posicionar em relação aos outros, ao mundo e a si mesmo... Impressionante!
Tem gente que tem prazer tipo "máquina de Coca-Cola". Vai lá, coloca o dinheiro, certeza que o refrigerante cai na abertura. Tem gente que prefere mil vezes uma máquina caça-níqueis. Coloca a moeda, gira a manivela, o gelinho na barriga, a expectativa do que vai acontecer. Tem gente que gosta de um meio-termo. Ou da primeira em certos assuntos, e da segunda, em outros. E a reação, caso a lata não caia? Pode-se suspirar em aborrecimento e colocar mais dinheiro (ou desistir de uma vez, a sede nem era tanta), ou ficar tão frustrado, chacoalhar e chegar a chutar a máquina de raiva. E, no caça-níqueis, existem aqueles que se propõem a perder uma certa quantia, que, atingida, acaba com a brincadeira. E outro que gasta muito mais do que planeja, na esperança de recuperar o que perdeu. Ou porque uma vez ganhou muito e quer ter aquela sensação de novo. Tem gente que já experimentou a sensação boa, parte para tentar a roleta, prá ver se é mais gostoso.
Mas, pensando bem, diferenças de temperamento existem até entre bichos. Tenho dois gatos da raça Pelo Curto Brasileiro (ou, vou no popular, vira-latas) que se comportam de maneira muito diferente entre si. A mais velha é uma lady, independente, carinhosa só quando quer, e sempre cede para o mais novo - o lugar, a vez de comer, o que o outro exigir, sem briga. O mais novinho nos segue igual a um cachorrinho, pela casa, mia com muito sofrimento quando se vê sozinho, mas não ronrona e não aceita carinho.
Ter consciência de tudo isso é importante para qualquer um, em qualquer relacionamento. Para tolerar ou decidir se afastar, se houver opção. Ou administrar da melhor maneira, se tiver que conviver, por força das circunstâncias. Mas é, em especial, para pessoas em cargos de chefia. E, inclusive nisso, as diferenças se mostram. Existem os que têm ambição de ocupar um cargo alto, mas, claramente, sem o menor talento para isso. Querem o status, o ganho financeiro, mas não levam em consideração a responsabilidade e dedicação que são exigidas. Não têm bom senso suficiente para liderar. O bom chefe, par começo de conversa, entende os talentos, valores e potenciais dos subordinados, e os distribui de acordo, de forma a aproveitar o melhor de cada um. Num mundo ideal. Claro.

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