sábado, 14 de fevereiro de 2015

Menininha

Estavam na praia, a mãe e a Gabriela, aos três aninhos. O céu estava nublado, o dia não muito quente, mas, obviamente, a menina besuntada com protetor solar da ponta do dedão até a raiz do cabelo e usava um chapeuzinho. Uma sentada na cadeira, bem perto da água, e a outra na areia molhada, construindo um castelo.
- Está ficando bonito, mamãe? - perguntava, de vez em quando.
- Está... - e a mãe pensando em todos os detalhes funcionais das férias, que, aliás, mãe não tira.
E acabou ficando bonito e alto. Mais do que o esperado. A menina bateu palmas e dançou em volta, quando ficou pronto. Durante o resto do dia, não falou em outra coisa. Pediu prá ligar para a avó para contar sobre isso, e, à noite, antes de dormir, inventou uma estorinha para os pais sobre uma princesa que tinha um dragão de estimacão e morava naquele castelo. Disse que o dragão espantava as bruxas e os príncipes malvados que por lá passavam. Os adultos franziram as sombrancelhas.
- Existem príncipes malvados, Gabriela? - perguntou o pai.
- Alguns. Mas a maioria não é.
Se admiraram com a noção e o fato de ela usar a palavra "maioria". Mas a gente nunca sabe o que vai sair da boca das crianças, de qualquer maneira.
Na manhã seguinte, pediu prá ser levada de novo à praia, para ver o castelo. A mãe logo avisou que ele não estaria mais lá. Que provavelmente a água do mar já o tinha varrido, que essas coisas não ficam para sempre na areia. Mas ela teimou, e, como esperado teve uma crise de choro ao chegar. Partiu o coração da mãe, que a abraçou, enxugou suas lágrimas, e se perguntou o que o futuro a reservava. Quantos castelos ela construiria, que seriam levados pela água, desfeitos em segundos, após tanta dedicação? Teria ela sempre alguém que a amasse por perto, para consolá-la, amenizar o sofrimento? Não havia como prever. Daí, a mãe lembrou de um detalhe. Abriu a bolsa e mostrou uma foto que tirou com o celular, sem que ela percebesse, da cena linda do dia anterior. A menina parou de chorar e começou a sorrir.
- O meu castelo!
- Sim, filha, olha ele aqui! Era lindo, né?
- Você acha que eu consigo fazer outro igual, se eu tentar?
- Certeza que sim, filha,
- E outro amanhã, de novo?
Balançou a cabeça, afirmativamente. Aparentemente, já aceitara a realidade dos castelos de areia.
A menininha sentou-se e colocou as mãos à obra. A mãe enxugou uma lágrima. Quem dera tudo pudesse ser refeito com tanta facilidade, e todas as lágrimas secassem de olhar uma fotografia do que já existiu... De maneira geral, o efeito é o oposto.

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