terça-feira, 28 de abril de 2015

Cabelo Vermelho

A avó a tinha alertado:
Ser ruiva é bênção
E praga ao mesmo tempo
Desperta curiosidade
Nos homens
"O carpete combina
Com as cortinas?"
Mas também insegurança
"Será que eu dou conta
Desse fogaréu todo?"
Infelizmente também a
Inveja e o ciúmes
Nas mulheres
Já estava acostumada
Com os curiosos
E inseguros
Que não diziam sim
Por medo e nem não
Prá não perder a chance
Definitivamente
Toda vez que tentava
Fechar uma porta
Colocavam um pezinho
Para mantê-la entreaberta
Um belo dia se viu
Parte de um
Triângulo amoroso
Um não! Dois!
Que começaram
Simultaneamente
Para a diversão
E a tortura
Serem em dobro
O loiro
Tinha a castanha
O moreno
Tinha a loira
O loiro era lindo
Alto, risonho
Leve, livre
Se insinuava
E encantava
E a castanha
Fingia não perceber
O moreno era
Um tesão
Não fazia força
Para agradar
Era sério, misterioso
Confiável
E a enlouquecia
A loira
Veio tirar satisfação
E mijou em todos
Os postes da vizinhança
"Ele é meu!"
Para sorte dela
Não teve que dar satisfações
Porque nada devia
Apaixonada, fazia poesias
Ora prá um, ora prá outro
Umas músicas lembravam um
Outras, o outro
Palavras eram trocadas
Em todas as direções
Joguinhos e conspirações
Tramas e expectativas
Faziam a vida mais saborosa
Na presença das fantasias
Em que eles participavam
E ela suspirava com a avó
"Não podia existir alguém que fosse
A fusão dos dois?"
E as histórias se arrastavam
Ela nos sonhos deles
Ela nos pesadelos delas
Nenhum beijo acontecia
Mas os leitores agradeciam
Pois não aconteceu que um dia
Ela conheceu um ruivinho
Assim como ela:
Também sozinho?
(Publicou um livro
De romance um ano depois)







Nenhum comentário:

Postar um comentário