quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Maternidade

Faço parte de um grupo de mulheres sortudas, que tiveram quantos filhos quiseram, logo após decidirem.
Bem, a terceira não foi exatamente planejada. Foi, na verdade "sem querer querendo". Não nos precavimos para evitar, nem de maneira definitiva, e nem na hora H. Quando ela estava com 3 meses, em mais uma noite sem dormir, tive uma crise de choro, que não deixou dúvida de que era hora de parar. Definitivamente. Então, providências foram tomadas para que não "viesse" mais nenhum, felizmente.
Quando solteira, por algum motivo, eu dizia que se Deus quisesse que eu tivesse três crianças, Ele me mandaria dois meninos, porque eu tentaria fazer uma menina. Duas meninas, ou um casal, e eu teria parado por ali. Dito e feito... Não sou sexista, tento criar os três de maneira parecida, com mais diferença em relação ao temperamento deles, do que ao sexo. Mas acho o vínculo mãe e filha sentido de maneira diferente do de mãe e filho. Ou, futuramente, mãe e nora. Principalmente quando eles tiverem família, e eu, meus netos. Sim, eu penso em tudo isso, e presto atenção nas experiências das minhas amigas mais chegadas, me imagino no lugar delas. Posso ser surpreendida, não vir a ser o que eu esperava, mas eu penso, sim.
Fui submetida a três bem indicadas cesáreas, e não me arrependo. Saí delas saudável, bem disposta, tirei de letra. Detesto a polêmica sobre cesárea e parto normal: o fato de não se confiar no médico quando ele indica a cirurgia (culpa dos maus profissionais e da mídia, na minha opinião), de que a maioria das gestantes não tem a informação necessária e realista sobre a escolha, o termo "violência obstétrica" e a praga supostamente jogada por Deus no livro do Gênesis. Acho que tornar-se mãe já é estresse suficiente para a mulher, para ela ainda por cima ter que decidir se vai pagar ou não pelo Pecado Original. Que horrível atrelar um momento tão especial da vida a um castigo! E não digam que isso não influencia. Pessoas cheias de maldade no coração vêem o sofrimento do parto normal, a dor, o suor frio, os gritos e gemidos, e pensam/falam: "na hora de abrir as pernas, gostou". Ou seja: castigo! Ué, mas o homem também ... Aliás, neste caso, se existe a certeza de que alguém gostou é a de que foi ele! Cadê o castigo dele?!
Enfim... No meu caso, se eu tivesse sido a Eva, a praga teria sido vinculada à amamentação, que foi um sofrimento bem prolongado, e pelo qual eu fiz questão de passar. Só não sei dizer em relação à intensidade da dor, porque nunca entrei nas fases finais do trabalho de parto, sem anestesia. Acredito que amamentar traz mais benefícios para a criança e a mãe do que o parto normal. Além do valor nutricional, anticorpos, evitar alergias e etc, forma aquele vínculo emocional delicioso... Favor não me mostrar estatísticas a respeito. Nem sei se existe este estudo comparativo, já que ambos devem ser estimulados pelos bons profissionais da saúde, mas essa foi a minha escolha, uma coisa não querendo compensar a outra, que fique claro. Tive a maioria das complicações que a mulher que amamenta tem. Mamilo rachado (e consequente sensação de choque elétrico durante o ato), monilíase (sapinho, em mim e no bebê, sarava em um, voltava no outro), mastites, múltiplas vezes. Fora a privação do sono crônica, que é uma das piores coisas pelas quais eu passei, porque deflagrava uma enxaqueca terrível. E nada de tomar medicação efetiva, já que estava amamentando.
Não me arrependo. Mas não enfio o dedo na cara das mães que saem da maternidade com fórmulas compradas. Cada mulher se doa para os filhos em extensão diferente. As escolhas são pessoais e vai ser assim para o resto da vida. Cada duplinha funciona de uma maneira. E mesmo, como mencionei acima, a relação da mãe com cada filho varia, conforme a necessidade específica da criança, de preferência.
Então, vai ter mãe que vai prestar muita atenção na dieta da criança, em ser livre de junk food, balanceada nutricionalmente, e não ligar dela soltar um palavrão aqui ou ali. Já outra vai ser vestida igual uma princesa, ter um jogo eletrônico de última geração, e estudar em escola pública. A outra vai estudar, fazer balé, natação e inglês, e ser atendida no SUS se precisar. E assim por diante.
A gente pode até achar que as prioridades estão erradas, que a mãe às vezes está prestando um desserviço para a criança (às vezes está, mesmo, pode dizer alguém que sabe melhor sobre o assunto), mas a mãe vai tomar decisões baseadas na própria bagagem, que é sempre tão diversa quanto é o ser humano.
O grande problema é quando a mãe se propõe a ser perfeita, ou se sente cobrada por isso. É difícil não querer tanto o bem do seu filho, e acabar criando uma ideia não realista das necessidades dele.
Eu mesma, normalmente, evito errar, obviamente, por ser médica e perfeccionista, mas tento aceitar minhas falhas como ser humano, de uma maneira geral. Mas, uma vez, a Beatriz rolou da cama, aos sete meses, e escorregou entre a beirada dela e o "chiqueirinho" que o Luis estava, coisa que eu não previ, e quase quebrou o nariz. Eu me lembro vividamente da sensação de culpa que senti, da dor no peito, o nó imenso na garganta, enquanto ela se submetia a uma tomografia computadorizada. Chorei muito. Foi um dos piores momentos da minha vida.
Assim, acredito que haja a necessidade de conscientizar as mães sobre aspectos importantes da gestação, parto, criação de filhos, mas também tem de haver tolerância para com as escolhas não convencionais, e pensar na mãe, também. Não criar mais neuras do que ela já carrega.
A mulher que não pode ter um parto normal não é menos mãe por isso. A que descongela um nugget de frango ou pede uma pizza no lugar do jantar de vez em quando não é uma desalmada. A que deixa o filho se emporcalhar na lama não está querendo que ele pegue uma verminose. A que escolhe não vacinar o filho não é uma criminosa que está querendo a volta da poliomielite.
Vamos com calma. Mães são seres humanos, também. E, de uma maneira geral, ela é o que o filho precisa, e provavelmente a pessoa que mais vai amá-lo, em toda a sua vida. Com todas as escolhas certas. E as erradas, também.

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