terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Talentos

Tive contato com algumas pessoas de outras áreas profissionais recentemente, o que me levou a pensar sobre a diversidade de talentos e posturas das pessoas. Que graças a Deus existe.
Por exemplo, não gosto de cozinhar. Vá lá, meus filhos não passam fome, eu até me viro, mas não me dá prazer. Admiro quem ganha a vida cozinhando, devota horas trabalhando num ambiente quente, uma atividade demorada, cujo prazer que proporciona dura tão pouco. Procura novos sabores, apresentações de prato, aromas, texturas, misturas.
Também o garçom que atende bem, faz o cliente se sentir especial, lista os pratos, dá palpite sobre vinhos, demonstra que nasceu para servir, e torna toda a experiência de comer fora melhor. Que paciência! Meus filhos me perguntam o que tem, eu respondo "comida!", já desestimulando a próxima vez. Detesto listar opções! "Abre a geladeira e vê o que tem!" combina mais comigo.
Conversei com policiais e um delegado sobre as atividades deles. Não conseguiria lidar com metade do que eles encontram, no dia-a-dia. Em sã consciência, evito pessoas que cometem crimes, saber a descrição dos mesmos, olhar a vítima (morta ou viva) e/ou o criminoso. Porque sei que isso me traria uma tremenda desestabilização emocional. Temer pela minha vida, a da minha família, me expor à violência... Não consigo imaginar salário que compense! Mas alguém tem que fazer, e felizmente há quem faça, sem entrar em depressão!
E o interessante foi eles dizerem que acham a minha vida como médica pior, e que não sabem como eu encaro certos aspectos do meu trabalho. Como a impotência diante da morte iminente, dar más notícias, a falta de recursos, e coisas assim. Eu não vejo tanta dificuldade nisso. Enquanto a pessoa está viva, ela merece estar vivendo o melhor possível. E eu vou fazer o que posso, com os recursos que tenho, e brigar pelos que não tenho. Simples assim. Eu escolho estar lá, com eles, nas horas difíceis, e sei que existe como minorizar o sofrimento, com ou sem medicação. Então, fico eu sem entender como eles conseguem, e admirando-os, e vice-versa.
E o que é tranquilo e prazeroso para mim soa estranho e difícil para eles, e vice-versa. E isso não tem preço! Reações, pontos de vista, formas de encarar a realidade bem divergentes.
E não só na hora da escolha profissional as diferenças se mostram e são bem-vindas. Tenho amigos engajados em atividades diversas, que são bandeiras hasteadas com fervor por um, e não dizem absolutamente nada para outro. Exemplos: anti-tabagismo, exercícios físicos, dieta sem glúten, preservação do meio ambiente, número de cesareanas/partos normais no Brasil, política, e por aí vai... O que leva uma pessoa a abraçar uma causa e não a outra, eu não sei. Talvez nem eles saibam. Mas tem assuntos que calam fundo no coração, e outros que são igual a filme de Sessão da Tarde: acabou e é esquecido imediatamente, Não passa pela cabeça até a gente encontrar aquele amigo de novo.
Mas é sempre bom ter descoberto qual tem tudo a ver, o que faz levantar da cama pela manhã valer a pena e coloca um sorriso no rosto, independente do salário ou do retorno concreto do investimento emocional.

2 comentários:

  1. Vc. nos engana com essa prosa de não saber cozinhar!!!! Vc. é uma excelente chef!!! Nos brinda com textos maravilhosos que nos fazem sorrir de satisfação, pois nos da o maior alimento que a pessoa pode ter!!! O prazer de ler, de rir e chorar, entender emoções que vc. como uma mestra de cozinha tão bem faz a mistura com os ingredientes na medida certa!!!!! Obrigado por me brindar com essa maravilhosa ceia, e espero um dia vc. falar para mim , abra geladeira!!!! Deve ser ótimo!!!! Quais serão os suculentos textos vc. nos brindará?

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