quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Resgate

Lembranças boas do passado merecem ser resgatadas.
Que delícia achar uma música na Internet que não era ouvida há muito tempo! Você lembra o jeito que a dançava, os lugares em que tocava, as pessoas que faziam parte da sua vida na época.
Às vezes, é um perfume antigo que te lembra uma fase da vida, alguém, ou até mesmo a loja em que você o comprava. O preço, se era muito alto...
Comida, então, nem se fala... O bolo que a sua avó fazia nunca vai ser só aquele gostinho. Vai ser a parte das férias que você passava na casa dela, a mesa que ela punha, as canequinhas que cada neto usava, o jeito que ela chamava todo mundo pro lanche da tarde, as tias matracando, o cheirinho do café.
Você encontra, no fundo do armário, uma fantasia que não sobe nem pela sua coxa direita mais, e lembra daquele Carnaval: os preparativos, o baile, as músicas, a empolgação antes e durante, o cansaço gostoso depois.
Passar uma tarde olhando fotografias, de preferência com alguns que nelas estão, ou assitir a um vídeo de casamento, ou dos filhos quando eram crianças é fórmula certa para emoções fortes.
Um abençoado decide trazer o violão pro churrasco e começa a tocar as músicas de mil novecentos e bolinha, quando estávamos na casa dos vinte, prestando vestibular, tentando nos definir como adultos e formando opiniões. Aquelas sensações voltam, a gente lembra como as amizades e os amores se formaram, o porquê de não terem se perdido ao longo do tempo, e como viver era e continua sendo bom.
Mas eu gosto mesmo é de resgatar pessoas. Porque tudo pode ter mudado: a aparência física, as histórias, a saúde, as prioridades, o foco, a vitalidade, os planos, os sonhos e por aí vai, mas a essência fíca. A afinidade, a história que já se viveu (experienciada e sentida de maneira diferente, mas semelhante) estão ali. Não existe necessidade de conquista, tentativa de impressionar, cultivo. É só desfrutar do que já existe, sólido e palpável. Como olhar um jardim depois que as flores já desabrocharam. Você senta para um café, um almoço, um chopp, ou faz uma visita, e simplesmente comprova o quanto quer bem àquela pessoa, como estar juntos é prazeroso e acolhedor.
Existe uma ponte nos Estados Unidos, acho que a Golden Gate, que dizem que começa a ser pintada em uma margem no início do ano, e quando terminam, no final do ano, já está na hora de se fazer tudo de novo. Acho que se eu usasse todo o meu tempo livre para me dedicar às pessoas de quem eu gosto, e com quem tenho histórias para recordar, viveria situação parecida com a da ponte, porque muitas me obrigariam a viajar, para bem longe. Infelizmente, não é viável.
Então, nas oportunidades que surgem (ou que eu faço surgir), aproveito, abraço, beijo, converso, relembro, tiro fotos, crio novas lembranças para daqui a sabe-se lá quantos anos, e agradeço a Deus aquela quenturinha que dá no peito, que a gente chama de amor ao próximo (em suas mais variadas formas).

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